Elogio da crítica

Há coisas que me transcendem. E ainda bem. Ou deixariam de existir mistérios para mim que nunca almejei saber tudo sobre tudo. Contento-me portanto com saber algo sobre o que me interessa. É por isso intrigante descobrir-me a pensar sobre assuntos que têm tanto interesse para mim como debater a influência do diâmetro médio do 'sombrero' mexicano no crescimento da papolinácia da Beira Baixa ou a família real portuguesa. Isto porque ainda hoje fui surpreendido por mim mesmo a pensar sobre... os críticos... O que é um crítico e para que serve? Estranhamente tive para isso a mesma resposta pronta que na altura em que um meu amigo me perguntou para que serve um texugo e que foi nenhuma. E é em alturas como esta que o nosso sistema educativo me parece, por vezes, pouco abrangente.

Sendo persistente (teimoso), continuei a pensar, embora confesse seja coisinha a que não estou muito habituado, tendo chegado a uma conclusão, pelo menos para mim, satisfatória: um crítico serve para poupar, a quem o ouve ou lê, o trabalho de criar uma opinião. São muitas vezes sub-valorizados no seu trabalho incansável de manter a actividade cerebral do seu auditório em níveis só comparados com o rácio impostos-benefícios oferecido pelo estado português. Assim, basta-nos aceder à crítica de um livro, filme, peça de teatro, decisão política ou personalidade pública para, com o mínimo de esforço, podermos criar uma opinião sem nos obrigarmos a conhecer o assunto em questão. A sua utilidade torna-se inquestionável se tivermos em conta a quantidade de opiniões que tantas pessoas se obrigam a regurgitar numa conversa para parecerem inteligentes, sabendo-se à partida que o objectivo de qualquer discussão é fazer com que o nosso interlocutor se sinta estúpido. Pensem nisto de cada vez que, por estarem a ler um livro ou a ouvir música, perderem as preciosas, sensatas, desinteressadas e altruistas opiniões dos nossos críticos de política e de artes, não esquecendo a distinta figura do crítico social que nos dá a conhecer pessoas tão importantes para a sociedade portuguesa que de outra forma nunca saberíamos da sua existência.

1 comentário:

Tareco disse...

Desenterras cada coisa...