À Lei da Rolha


Santana Lopes parece decidido a aliar-se a Sócrates na luta por manter o governo PS durante muitos e longos anos. Ninguém melhor que ele para se colocar na pele de um Primeiro Ministro com maioria relativa e popularidade periclitante. A solidariedade e o altruísmo de Santana para com Sócrates chegam a ser comoventes quando propõe a aplicação ao seu próprio partido de medidas de censura que fazem recuar a nossa memória colectiva aos tempos de Salazar, para gáudio do PS que tem assim a tarefa de desacreditar o PSD ainda mais facilitada. Tudo em prol da estabilidade política. Em Espanha, o assessor de José Sócrates para a imprensa, D. Juan Carlos I, fervoroso adepto da liberdade de expressão, terá reagido perguntando a Santana Lopes "porque no te callas?" (porque não te calas?). O líder do país vizinho, Alberto João Jardim, reagiu com irritação: "se nom me crien no partidd já m' p'diem ter ditt, per iss faquiú, meten a rolha no quiú" (esta frase aguarda tradução).


A medida peca, na minha opinião, por falta de ambição. Santana poderia ter ido mais além e imposto a "lei da rolha" não só aos 60 dias que antecedem os sufrágios mas também aos cerca de 1400 que os sucedem. E em vez de impedir os Sociais Democratas de falar contra a direcção do partido, o que poderia criar alguma confusão já que nunca se percebe quem manda realmente, porque não simplificar e impedi-los apenas de... falar? Não me parece que daí viesse mal ao país e diria mais: os políticos, quando estão calados, até nem são má companhia. Esta prática é aliás comum entre as fileiras do partido, como amiúde exemplificam Manuela Ferreira Leite e Aníbal Cavaco Silva. O que faz ainda mais sentido se pensarmos que Sócrates apenas ouve Cavaco quando o último pensa não estar a ser escutado. Afinal, embora raramente falem quando lhes perguntam seja o que for, são dos políticos mais bem sucedidos que já passaram pelo PSD, juntamente com Durão Barroso, Marques Mendes e Pacheco Pereira que, independentemente da pergunta que lhes façam, respondem sempre sobre um assunto à sua escolha.


Sou todo a favor de qualquer medida que tenha o duplo efeito de, por um lado calar membros do PSD e por outro reduzir o seu número. Seria interessante a regra ter efeitos retroactivos embora isso significasse a provável dissolução desta força política, pois num momento ou noutro toda a gente já criticou a direcção. Nesse caso Santana poderia então realizar o sonho de criar um partido seu, com as iniciais do seu nome, o Partido Santana Lopes, ou PSL. Isto supondo que encontraria o número suficiente de surdos-mudos para o seguirem. A alternativa mais viável consistiria em mudar-se para o PS e chamar-lhe Partido Santanista, substituindo e ostracisando Sócrates que devia ter pensado nisso antes e mudado o nome para Partido Socrático, em ambos os casos sem necessidade de alterar a sigla do PS e com a vantagem de não mais ter que disfarçar o facto de o PS já nada ter a ver com ideais Socialistas ou de esquerda. Esta seria uma aplicação mais correcta da manobra descrita no livro secreto de Paulo Portas intitulado "Como Ganhar a Liderança de um Partido e Mudar a Sua Orientação Política Para Totós", das edições Moderna.


Claro que, com Santana, os congressos do PS seriam algo parecido com o programa da Júlia Pinheiro em que se fala com mortos, o que não parece complicado no caso dela porque, convenhamos, quem é que consegue descansar em paz com ela a falar? Mas a coisa teria pernas para andar, afinal Sócrates já provou que os antigos militantes do PSD dão óptimos secretários gerais do PS apesar de estarem constantemente envoltos em polémica e questões de contornos menos claros.

1 comentário:

Tareco disse...

Bem, é que é só das coisinhas mais parvas que li nos últimos tempos, apre!